Ainda (estranhamente) bastante atual
Recomendo
Acho pouco provável (praticamente impossível) que eu me interessasse em ler A Journal of the Plague Year (Diário do Ano da Peste, na tradução mais recente) se não fosse a pandemia. Mas, de longe, é o livro mais legível do Defoe. Já tinha lido (aos trancos e barrancos) Robinson Crusoe e Moll Flanders, e são praticamente impossíveis (pra não dizer insuportáveis) a não ser para alunos e alunas de Letras – dada a importância do autor na história do romance inglês. A Journal..., embora não pareça, é um romance, mas é construído como um diário, e bastante crível, do período de 1664 a 1665 quando Londres enfrentou a Grande Peste. Defoe tinha apenas 4 anos quando isso aconteceu, por isso não tinha como ser um livro de não-ficção ou, pior ainda, de memórias. Ele fez uma pesquisa bastante aprofundada e cria uma narrativa que se acompanha com muito interesse – especialmente por causa do que vivemos agora. É impressionante como algumas coisas existiram, embora sem o nome chic que têm agora: fake news, subnotificação, assintomático, transmissão comunitária etc. E também, naquela época, as classes mais pobres foram as mais afetadas. Numa introdução da edição da Penguin de 1966, Anthony Burgess escreve que “Dafoe foi nosso grande primeiro romancista porque foi nosso primeiro grande jornalista.” Aqui, o autor combina as duas prática, romance e jornalismo, e escreve um livro, que, quem diria!, é fundamental também para compreensão de nosso tempo – em especial de elementos que sobrevivem ao longo desses séculos, o que faz do livro bastante atual em alguns elementos – mesmo que não estivéssemos enfrentando uma pandemia.
Alysson
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