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Tres Emendas - Ensaios Machadianos De Proposito Cosmopolita - 8526810677 - 9788526810679

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Ficha técnica

Informações Básicas

ISBN9788526810679
ISBN-108526810677
TítuloTres Emendas - Ensaios Machadianos De Proposito Cosmopolita
Autor8526810677
EditoraUnicamp

Descrição

O menor preço encontrado no Brasil para Tres Emendas - Ensaios Machadianos De Proposito Cosmopolita - 8526810677 - 9788526810679 atualmente é R$ 42,01.

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O estrangeiro e os livros

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Três emendas é composto de três ensaios sobre a obra de Machado: o primeiro sobre Memórias Póstumas; o segundo sobre Machado contista; e o terceiro sobre Dom Casmurro. Pressuposto de todas as análises é que a obra de Machado esteja subordinada a uma noção de literatura ligada a um ideal cosmopolita, por oposição a um "ideal nacional de país construindo-se dotado de literatura própria" (p. 17). O ideal cosmopolita não é visto como um universalismo anódino, vazio, mas como uma atitude de hospitalidade radical em relação ao leitor estrangeiro, que é bem-vindo no espaço da obra e pode nele entrar com suas emoções e ideias próprias, sem que precise declarar sua adesão a alguma leitura nacional ou deixar sua individualidade na soleira. Se toda a obra machadiana se compreende apenas como expressão literária seja de um caráter nacional, seja de relações sociais objetivas e específicas da formação social brasileira, ninguém poderia ler Machado adequadamente sem se interessar pelas coisas do Brasil, pela história do Brasil, pelas contradições próprias do desenvolvimento brasileiro. Baptista quer combater essa visão. Ele faz uma crítica incisiva da obra de Roberto Schwarz, a qual reputa incapaz de responder à questão de por que Memórias Póstumas é ao mesmo tempo um livro tão cômico e tão sombrio. Baptista considera que a obra de Schwarz não só fracassa em dar conta dessa questão como também não impede que ela ressurja (p. 26). E como isso é apontado por um crítico americano, professor de Princeton, que dialoga com o texto de Schwarz na NY Review of Books, Baptista argumenta que o próprio contexto internacional do debate, no qual o "nacional enquanto valor próprio não tem sentido", torna precária a defesa de uma leitura nacional (p. 28). Baptista caracteriza a noção cosmopolita como "promessa de inteligibilidade e prazer que o texto dirige à inteligência e à paixão do estrangeiro" e como "hospitalidade incondicional" (p. 29). Em síntese: o fato de o leitor estrangeiro eventualmente ter um âmbito de incompetência - o das peculiaridades nacionais - não elimina toda a sua competência para ler a obra literária em questão (p. 14). Baptista recupera nessa introdução algumas reflexões feitas por Herculano em torno de A Confederação dos Tamioios, expressas em uma carta dirigida a D. Pedro II em 1856. Feita essa defesa da noção cosmopolita, Baptista passa então aos ensaios em que interpreta a obra machadiana. Por questão de brevidade, comentarei rapidamente apenas o último ensaio. O terceiro ensaio, sobre Dom Casmurro, orienta-se pela ideia de que dois livros disputam a primazia dentro da obra: um, o do Capítulo II, é aberto e vai se construindo ao sabor das memórias; o outro, sugerido pelo Capítulo XCVII, é uma história completa com começo, meio e fim à qual se devem subordinar os capítulos todos da obra. A história unificada é concebida pelo autor nos termos da Poética de Aristóteles, isto é, como o mythos distinto da representação. Em Dom Casmurro, argumenta Baptista, a história é o destino irônico ou trágico, que, como dramaturgo e contrarregra, arranja para que Bento tenha um ciúme destrutivo de tudo e todos exceto da pessoa que o teria traído, isto é, Escobar. Essa história, da qual Dom Casmurro quer nos convencer, não é o mesmo que o livro. As tensões entre história e livro, assim como aquelas entre vida e teatro, seriam constitutivas da obra e explicariam em grande parte a nossa impossibilidade de decidir pela culpa ou inocência de Capitu. Mais que isso, Dom Casmurro se coloca fora do drama, na posição de um espectador como outro qualquer, capaz de, sem estar afetado de ciúmes, observar o drama em que o ciúme está inscrito e explicar a história (p. 184/185). Ele, porém, não pode fazer isso sem de certa forma destruir o livro concebido como escrita solta ao sabor do ritmo das reminiscências, e este livro, por sua vez, irá sempre comprometer a história unificada. Do que resulta, então, que a obra colocaria em questão, para Baptista, a própria possibilidade do livro ou de livros em geral. O narrado sempre sujeito à reconfiguração totalizante, a qual, no entanto, será sempre de certo modo minada pelo narrado. Que possamos ler essa aparente impossibilidade de escrever e ler o livro é um dos paradoxos ressaltados pelo autor (p. 171). Baptista indaga se Casmurro seria uma tragédia reduzida a seu elemento mais básico, uma "tragédia depurada" feita apenas do reconhecimento final. Édipo investiga, compõe a sua história e descobre quem é. O espectador de Sófocles, que conhece o mito fora da peça, entende que Édipo tinha de se matar. Otelo é enredado por Iago diante dos olhos do espectador e, por isso, entendemos por que ele precisa se apunhalar ao final depois de fazer um resumo acurado da sua miséria. Em Dom Casmurro, porém, argumenta Baptista, isola-se apenas o momento do reconhecimento final. Só há a autobiografia do pós-heroi, e ficamos sem as testemunhas e os relatos que pudessem atestar, por exemplo, a culpa ou a inocência de Capitu. Como um Édipo sem mito tradicional prévio e que se limitasse à parte em que ele finalmente toma consciência plena de quem é. Ou um Otelo reduzido a seu reconhecimento final (p. 193). E como fica aquela tensão entre vida e teatro nesse contexto? Uma resposta é reconhecermos que o destino não é, senão de maneira muito imperfeita e postiça, uma entidade da vida; ele é, fundamentalmente, uma categoria ou dispositivo teatral, que exige um deus ex machina hermenêutico para se constituir como tal (p. 192/193). O que escapou a Aristóteles: a história não se decide sem o momento autobiográfico e a autoridade que a confirme. O que não lhe escapou: a tragédia não visa revelar o destino, mas busca o prazer que é próprio dela, tragédia. A obra de Baptista é muito instigante e suscita tantas reflexões ao longo da leitura que é difícil fazer dela uma avaliação. Não posso pretender tê-la entendido plenamente; não se trata de um escrito fácil. O que vai acima foi aquilo que extraí da obra e não significa que esteja "certo" ou que outros leitores não possam fazer outras leitutas. De todo modo, gostei muito da leitura porque a todo momento o livro me desafiou desafiou a pensar, reler e questionar o significado que essas obras de Machado têm para mim. A hospitalidade da obra machadiana em relação ao autor desses ensaios certamente enriqueceu a experiência literária deste hóspede nacional aqui. E o debate com as outras interpretações revela, por meio dos contrastes, toda a riqueza plural da obra de Machado, suscetível de ser lida de muitas maneiras diferentes.

Gudema

• Via Amazon

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