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A Segunda-feira É Das Almas - Augras, Monique - 9788534704854

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Ficha técnica

Informações Básicas

ISBN9788534704854
ISBN-108534704856
TítuloA Segunda-feira É Das Almas
AutorAugras, Monique
EditoraPALLAS
GêneroEspiritualismo

Avaliação dos usuários

4.4

4 avaliações

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DESRURALIZAÇÃO DA CIDADE E DA MORTE

Recomendo

Baseado em trabalho de campo em Igrejas e Cemitérios entre finais da década de 1990 e começos de 2000, o livro registra o comportamento da população da cidade do Rio de Janeiro - com foco no Centro e na Zona Sul - no que concerne ao culto às almas, acompanhando ex-votos, rezas, cartas e o espaço físico da Igreja, particularmente as de antigas irmandades africanas e descendentes libertos e livres, onde se cruzam as classes sociais diversas. A diferença entre o sentido de "almas" para a Igreja Católica e dos fiéis demonstra permanências de traços cruzados do catolicismo magístico ibérico e o culto banto-ameríndio a antepassados. Tudo isso compõe a terceira parte do livro. Na primeira parte, de forma muito pertinente, Augras estabelece o vínculo implicativo entre a invenção do purgatório pelo catolicismo europeu medieval (o vivo se comunica com os mortos, os mortos interferem nos vivos), o culto das almas benditas (os santos reconhecidos pela Igreja) e a forma popular mais antiga de culto a antepassados intercessores por parte do catolicismo popular medieval, que se tempera e se ressignifica, no Brasil, com a forma banto-ameríndia de culto a antepassados, proibido pela Igreja, mas sobrevivendo nas formas de rezas, evocações e conjuros a mortos a partir de categorias do catolicismo medieval de culto a santos. A autora chega a acompanhar (na terceira parte) casos de cultos populares a crianças mortas convertidas postumamente em milagreiras taumatúrgicas no Rio de Janeiro e São Paulo para estabelecer o vínculo implicativo entre as partes primeira e segunda do livro. Na segunda parte, há um estudo do impacto na formação do culto às almas na forma como urbanamente se configurou cemitérios a partir de projetos urbanos higienistas desde começos do século XIX. Consultando bons trabalhos sobre a história de cemitérios no Rio de Janeiro, vemos o papel desempenhado pela Misericórdia em relação ao enterramento de escravizados doentes que eram abandonados alforriados pelos donos nas ruas para que não arcassem legalmente com as custas de enterros. Eram comuns alforrias para escravizados que ficavam doentes com morbidades conhecidas. Há um ótimo mapeamento dos cemitérios de escravizados e a hierarquização urbana da morte. Há a referência ao lugar que hoje é o IPN (Instituto dos Pretos Novos) como foco de problema para se criar uma solução higienista que diminuísse epidemias na cidade (epidemias não escolhem classe social). Augras consegue fazer um apanhado denso de estudos, pesquisas e dá uma forma empática para a escrita, de forma a evitar a assimetria do olhar do leitor sobre o assunto. É uma linguagem de aproximação, de responsabilização histórica e de demonstração de estratégias de dignificação da morte nas situações estruturais mais violentas da escravidão - porque esta, no século XIX, definiu a forma de conceber hierarquia espacial na cidade em relação à morte, algo que afeta até hoje a forma como cemitérios antigos se mantém e novos surgem.

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