O tráfico de mulheres e meninas
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Iana Matei é uma psicóloga que mantém um abrigo na Romênia para acolher vítimas do tráfico sexual. Neste livro ela relata um pouco de sua vida, quando precisou fugir da Romênia e se exilar na Austrália, onde começou um trabalho voluntário com pessoas de rua como uma pesquisa para sua formação de psicóloga e que acabou se transformando em uma organização de ajuda. Ao retornar à Romênia para ver a mãe ela nota a questão da prostituição, e percebe que não se trata apenas da prostituição voluntária, mas de prostituição forçada, ou seja, a venda de carne humana para o sexo, meninas menores de idade traficadas pela Europa toda. Decide então abrir um abrigo para acolher estas meninas e inicia um trabalho difícil, doloroso, mas necessário, uma vez que se trata de algo ignorado normalmente pelas autoridades. O livro contém histórias destas meninas, dos abusos sofridos, mas sem exageros, sem o que Matei mais condena que é o voyeurismo, principalmente de jornalistas, que sempre querem saber os detalhes sórdidos, o que não interessa à Matei. O que ela visa é a reconstrução psíquica e física destas meninas para que elas possam ter uma vida normal. E na maioria dos casos ela consegue, com muito esforço, que isto aconteça. Há casos em que infelizmente a menina volta a se prostituir. A questão da falta de compreensão geral, seja do judiciário, da polícia, das autoridades, dos jornalistas, dos pais, da sociedade que não conseguem diferenciar estas meninas que são vítimas e foram brutalmente forçadas a se prostituir após cair no engano ao serem aliciadas por um amigo, conhecido, muitas vezes mulheres, que prometem um bom emprego, ou as seduzem fazendo com que se apaixonem, meninas frágeis, carentes, pobres, geralmente provenientes de lares violentos e disfuncionais, das prostitutas maiores e que fazem uma escolha voluntária. A corrupção, os subornos, o traficante é rico, pode contratar bons advogados, suborna as autoridades, e geralmente quando condenados pegam penas leves de no máximo 3 anos. O maior terror das meninas acolhidas é encontrarem com o traficante, serem apanhadas de volta. Isto faz com que algumas não queiram nem sair do abrigo para ir a escola ou trabalhar. A luta de Matei e das educadoras para mudar o comportamento e o pensamento destas meninas, que as vezes requer até mesmo uma certa brutalidade, não fisíca, mas nos atos e palavras, pois elas tem dificuldades, a maior delas é voltar a confiar em alguém. Matei defende acima de tudo a educação para diminuir o problema, uma vez que as autoridades pouco fazem e quando fazem obtém poucos resultados em conter os traficantes que estão pela Europa toda por onde distribuem as meninas, e geralmente eles a trocam de lugares, evitando desta forma que criem algum laço no local e seja mais difícil localizá-las. O assunto é árido, mas Matei consegue nos falar disto com força e simplicidade, ela não omite o real, mas defende a dignidade destas meninas, e clama para que algo seja feito. Sua coragem é exemplar, ela mesma já tendo enfrentado traficantes cara a cara. Vale a leitura!!
Christiane
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