O Guru da Lopes Chaves
Recomendo
A correspondência de Mário de Andrade, disse Antonio Candido, encherá volumes e será porventura o maior movimento no gênero, em língua portuguesa. Lacrada após sua morte, em 1945, a pedido em testamento, a correspondência recebida por Mário foi aberta para consulta pública no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da USP, a partir de julho de 1997, quando foi concluído o trabalho de catalogação da comissão integrada, entre outros, por Antonio Candido. Este Mário, Otávio : Cartas de Mário de Andrade a Otávio Dias Leite (1936-1944), organização, introdução e notas de Marcos Antonio de Moraes (um dos coordenadores editoriais do Projeto IEB-USP / Edusp da Coleção Correspondência Mário de Andrade e organizador de Mário de Andrade & Manuel Bandeira [Prêmio Jabuti], primeiro volume da Coleção), dá continuidade à publicação do universo epistolográfico do guru da Lopes Chaves. Uma preciosidade o livrinho Mário, Otávio, editado em conjunto com o IEB, não no âmbito do Projeto IEB-USP / Edusp, mas em projeto editorial da benemérita Oficina do Livro Rubens Borba de Moraes, de Cláudio Giordano. Revisão excelente (texto impecável) do próprio organizador Marcos Antonio de Moraes (como eu imaginei). Boas margens, ótima impressão, nítida, bom de ler, mesmo na cama à luz do abajur. Otávio Dias Leite, o interlocutor de Mário (conta o organizador da correspondência), quando, em 1934, ainda frequentava o ginásio, em Belo Horizonte, tendo publicado o livro de poemas Baganas, enviou exemplar para Mário de Andrade, na rua Lopes Chaves em São Paulo. Mário, que já se correspondia com os rapazes de Minas e respondia todas cartas, brindou com uma resposta o jovem poeta (e depois o poeta e agitador cultural de Belo Horizonte, responsável por revistas), desencadeando a troca epistolar que redundou em doze cartas de Mário e dezoito de Otávio, um pequeno mas interessante conjunto que contribui para a compreensão de importantes fragmentos da história de vida dos interlocutores e do projeto de vanguarda político-cultural ao qual estavam engajados como combatentes... Combatentes ou sonhadores? Esta correspondência Mário de Andrade-Otávio Dias Leite, organizada por Marcos Antonio de Moraes com a conhecida competência com que editou a volumosa correspondência Mário de Andrade-Manuel Bandeira, como salienta Júlio Castañon Guimarães, no excelente prefácio "O jogo das cartas", tem, pela forma como é feita, a importância das informações que oferece para uma melhor contextualização; merece "destaque, entre muitas outras, as referentes às revistas pelas quais Otávio Dias Leite foi responsável e nas quais se encontram colaborações dignas de nota, bem como as referentes à própria produção poética de Otávio, documento de uma etapa das repercussões do modernismo em Minas. O jogo das cartas torna-se ainda mais amplo na medida em que a edição traz vários documentos anexos, mencionados ou não pelas cartas, mas que de qualquer modo contribuem significativamente para uma melhor contextualização. Além disso, muitos desses documentos são desconhecidos ou pelo menos tiveram circulação muito restrita, relegados a arquivos ou a páginas de antigos periódicos". Mário, Otávio, quando mais não seja, constitui exemplo da forma como uma correspondência pode ser editada, "apresentada de modo a explicitar elementos das cartas, bem como a desenvolvê-los em termos de informação, tornando-se, para além de dar a ler prazerosamente as cartas, fonte preciosa para estudo." Estou a ler o livro com prazer.
Fábio
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