As Relações Domésticas
Recomendo
Bluebeard’s Egg, de Margaret Atwood, foi lançado no Canadá em 1983 e publicado no Brasil em 2016. Intitulado O Ovo Do Barba Azul E Outras Histórias, o livro teve boa parte de seu interesse redimensionado graças ao sucesso de O Conto Da Aia, obra-prima da escritora, que coincidentemente chegou às nossas livrarias alguns meses depois. Empregando estratégias pós-modernas, o livro reúne doze contos que abordam os revezes das relações domésticas mediante a mudança da autopercepção das personagens e o resultado – como a ausência de um enredo com começo, meio e fim – pode até causar certa estranheza para parte dos leitores. Aliás, trata-se de uma seleção de inequívoca qualidade, sendo que quatro narrativas em primeira pessoa despertam particular atenção pelos traços autobiográficos e o apurado olhar para uma provinciana família canadense. São elas: Momentos Marcantes Na Vida De Minha Mãe, O Furacão Hazel, Em Busca Da Orquídea e Escavações As demais apresentam um narrador em terceira pessoa limitada como a que intitula o livro. O Ovo do Barba Azul foi inspirada numa versão mais antiga da história imortalizada por Charles Perrault e traz à pauta a dinâmica do poder de gênero na sociedade e a carência de voz e ação nas mulheres, dois temas recorrentes da obra da escritora. Uma recorrência que abarca a busca pela identidade (Nascer O Sol), a desconfiança nas relações entre homens e mulheres (O Jardim De Sal), assim como a força transformadora da natureza (A História De Duas Emmas), além do próprio ato de contar histórias (A Íbis Escarlate). Coalhado de metáforas e povoado por pessoas comuns, o livro também exibe o incômodo destino de uma gata (Gatafeia), a anedótica relação entre a anorexia e os anfíbios (O Canto Primaveril Das Rãs) e a imprevisível convivência de cinco pessoas debaixo do mesmo teto (Loulou, Ou A Vida Doméstica Da Linguagem). Se ficou curioso, recomendo o livro, a despeito da tradução com muitos erros. Irônicos, líricos ou meditativos, os contos comprovam porque o nome de Margaret Atwood está sempre entre os favoritos ao Nobel de Literatura, todavia a Academia Real Sueca costuma ignorar escritores de maior popularidade, como fez com Philip Roth e ainda faz com Haruki Murakami e Joyce Carol Oates. Boa leitura!
Leila
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