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Livro foi muito bem indicado para mim.
Natalia
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ISBN | 9788528620702 |
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ISBN-10 | 8528620700 |
Título | A Fome |
Autor | Caparrós, Martín |
Editora | BERTRAND BRASIL |
O menor preço encontrado no Brasil para A Fome - Caparrós, Martín - 9788528620702 atualmente é R$ 45,00.
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Conflito Ucrânia x URSS
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Na época belicosa que temos vivido nos últimos tempos, se faz por demais necessária a leitura de obras como está, não apenas para entender o caráter histórico do conflito, mas também para notarmos o perigo de qualquer ideologia totalitária - a independer do campo ideológico -, o coletivismo, a supressão das liberdades individuais, são atos nefastos que se refugiam sob o véu do "bem da maioria". O material da capa é bem diferente.
Bragança
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Fome artificial, política e genocida: Holodomor
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Já tinha lido artigos da Anne Applebaum para alguns grandes jornais, mas este foi o primeiro livro que li dela e estou encantada com a sua habilidade como condutora: escreve visando o leitor não especialista sem prejudicar o texto com vulgarização argumentativa ou estilística. Uma ótima postura pra quem espera atingir um grande público com um livro de história um pouco extenso. “A fome vermelha” se baseia em documentação arquivística (Canadá, Ucrânia e Rússia), coleções de documentos editados, depoimentos, consultas ao trabalho de outros pesquisadores. O primeiro capítulo aborda a Revolução Ucraniana de 1917 e o último, “A Holodomor na história e na memória”, alcança a tragédia de Chernobyl e seu impacto no estudo da fome provocada por Stalin nos anos 30: “[…] Chernobyl relembrou à URSS, e ao mundo, as drásticas consequências do sigilo soviético, chegando mesmo a fazer com que o próprio Gorbachev reconsiderasse a recusa de seu partido em discutir o passado, bem como o presente. Abalado com o acidente, o líder soviético lançou a política da glasnost. Literalmente traduzida como ‘abertura’ ou ‘transparência’, a glasnost encorajou os servidores públicos e todos os indivíduos a revelarem a verdade sobre as instituições soviéticas e a história soviética, inclusive a de 1932-33. Em decorrência dessa decisão, a rede de mentiras tecida para esconder a fome – a manipulação de estatísticas, a destruição dos registros de mortes, a prisão dos autores de diários – finalmente seria descosturada.” Em questão de um século a Ucrânia sofreu nas mãos de diferentes atores políticos. Seguem alguns desses episódios em ordem cronológica, todos tratados por Applebaum: 1. Teve seu movimento nacional reprimido porque era visto como uma ameaça à Rússia Imperial. Tsares tentaram minar o movimento atacando o idioma ucraniano e a organização política da população. Depois da Revolução Russa, a perseguição trocou de mãos e ficou a cargo de agentes bolcheviques: em dado momento chegaram até a fuzilar quem fosse encontrado falando ucraniano em público, baniram jornais e atacaram o campesinato. Lenin também adotou a estratégia da “guerra híbrida”, infiltrando aliados no país pra manipular nacionalistas: “[…] ele ordenou que suas forças reentrassem disfarçadas na Ucrânia. Elas deveriam esconder o fato de que eram força russa lutando por uma Rússia bolchevique unificada. Em vez disso, se autodenominaram ‘movimento soviético de libertação ucraniana’, precisamente para confundir os nacionalistas. A ideia era usar a retórica nacionalista de maneira cínica para convencer o povo a aceitar o poder soviético.” 2. Expandindo cada vez mais o que a categoria kulak abarcava e apostando numa coletivização forçada que instaurava metas impossíveis de alcançar na produção de alimentos, a URSS desapropriou camponeses, eliminou quadros intelectuais e políticos importantes, instaurou uma política de extermínio pela fome que mataria cerca de 4 milhões de pessoas – é o número aproximado ao qual grande parte dos acadêmicos ucranianos adere – e depauperou a força do país, o que tem consequências até hoje: “Seguramente, a eliminação da elite ucraniana nos anos 1930 – os melhores acadêmicos, escritores e líderes políticos, bem como seus mais enérgicos fazendeiros – continua sendo importante. Mesmo três gerações depois, muitos dos problemas políticos contemporâneos da Ucrânia […] podem remontar diretamente à perda daquela primeira, patriótica e pós revolucionária elite. Em 1933, os homens e mulheres que poderiam ter liderado o país, as pessoas que eles poderiam ter influenciado, e vice-versa, foram abruptamente removidas do cenário.” Os perpetradores dessa destruição – que envolveu, além da morte por inanição, execuções sumárias, tortura, episódios de canibalismo entre a população, ruína das famílias e perseguição entre vizinhos que se denunciavam pra ter a chance de receber um pouco de comida como recompensa – puderam se sentir justificados moral e politicamente no seu trabalho por meio de um sistema de mentiras e discurso de ódio adotado pelo próprio Estado: “Poucos dos que organizaram a fome se sentiram culpados por isso: eles foram convencidos de que os camponeses que morriam eram ‘inimigos do povo’, criminosos perigosos que precisavam ser eliminados em nome do progresso.” É impressionante a força da lavagem cerebral ideológica. 3. Com a chegada dos nazistas, em 1941, “O Holocausto teve início de imediato, desenvolvendo-se em público, não em campos distantes. No lugar da deportação, a Wehrmacht organizou execuções em massa tanto de judeus quanto de ciganos, na frente dos vizinhos, nos limites dos vilarejos e nos bosques.” As vítimas cresceram em número porque os nazistas não se ativeram a judeus e ciganos: “Soldados nazistas roubaram, espancaram e assassinaram arbitrariamente outros ucranianos, em particular servidores públicos. Os eslavos, na hierarquia nazista, eram sub-humanos, untermenschen, talvez um degrau acima dos judeus, porém igualmente fadados à eliminação. […] No decorrer da guerra, as tropas nazistas enviaram mais e 2 milhões de ucranianos para campos de trabalhos forçados na Alemanha.” 4. Como a propaganda nazista sabia da fome soviética imposta à Ucrânia, aproveitou-se dela pra produzir material contra os bolcheviques. Com o fim da Segunda Guerra, ucranianos não puderam rememorar a fome dos anos 30 nem em conversas: qualquer fala sobre ela passou a ser considerada “propaganda hitlerista” e traição contrarrevolucionária. 5. Nas décadas seguintes, ucranianos estabelecidos em outros países começaram a organizar registros sobre a Holodomor em livros, mas receberam pouca atenção – num contexto de Guerra Fria, seus relatos foram vistos muitas vezes como “demasiadamente políticos” e, portanto, foram ignorados por estudiosos soviéticos e revistas acadêmicas tradicionais. A polarização, que alguns pensam ser recente, mas é mais antiga que Cristo, dava as caras ao desqualificar assuntos que pudessem “ajudar o outro lado” ou catalogar ideologicamente quem tratasse dele: “Na época, como agora, a argumentação histórica sobre a Ucrânia era moldada por argumentos inerentes à política americana. Embora não exista razão objetiva para que o estudo sobre a fome tenha sido considerado ‘de direita’ ou ‘de esquerda’, a política da academia da Guerra Fria significou que qualquer acadêmico que escrevesse sobre atrocidades soviéticas era facilmente rotulado.” 6. O acadêmico Raphael Lemkin, polonês de origem judaica, cunhou a palavra “genocídio”. O termo tinha, inicialmente, acepção ampla: podia ser cometido por razões políticas, sociais, culturais, econômicas, biológicas ou físicas. Pela sua definição, o que ocorreu na Ucrânia com a sovietização e com a fome poderia receber a classificação de “genocídio”, mas tudo mudou de figura quando a questão foi levada à ONU, e mesmo Lemkin mudou de opinião, apoiando a restrição do conceito: “[…] a delegação soviética argumentou que grupos políticos ‘estavam totalmente fora de lugar na definição científica de genocídio, e que sua inclusão enfraqueceria a convenção [da ONU para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio] e prejudicaria a luta contra ele’. Os soviéticos procuraram então garantir que a definição de ‘genocídio’ estivesse ‘organicamente vinculada ao nazifascismo e a outras teorias raciais similares’. O próprio Lemkin passou a fazer lobby pela definição mais enxuta, como também o fizeram tantos outros que esperavam ansiosamente a aprovação da medida, e que temiam que a URSS, caso contrário, a bloqueasse.” A Convenção foi aprovada dessa forma em 1948. Era mais um revés para a Ucrânia: “Apesar de Lemkin, mais tarde, argumentar e mesmo descrever a sovietização da Ucrânia como ‘exemplo clássico de genocídio soviético’, é agora difícil categorizá-la, ou qualquer outro crime soviético, como tal no Direito Internacional. Isso dificilmente surpreende, tendo em vista que foi a própria União Soviética que ajudou a moldar o fraseado exatamente para evitar que crimes soviéticos, inclusive a Holodomor, fossem classificados como ‘genocídio’.” 7. Por último, a negação do episódio ocorre até hoje: “Por volta de 2016, a argumentação retornou ao ponto de partida. O Estado russo pós-soviético estava mais uma vez em completa negação: a Holodomor não aconteceu, e só ‘nazistas’ diriam o contrário. Todas essas alegações confundiram a aplicação do termo ‘genocídio’ de modo tão bem-sucedido que o emprego da palavra em qualquer contexto, russo ou ucraniano, se transformou em cansativa controvérsia. As pessoas ficaram exaustas com o debate – o que, talvez, tenha sido exatamente a intenção dos russos em seu ataque à historiografia.” Comento: essa negação denunciada por Applebaum ocorre seja pela propaganda russa direta ou pelo que comunistas absorvem dela de modo oportunista e tentam propagar. Há uma porção de “jovens influenciadores” que dão “aulas” de revisionismo histórico nas redes sociais, “provando”, com base em material conspiratório e fontes enviesadas, que “a Holodomor é uma farsa”: teria acontecido por causa do “mau tempo” e por culpa dos kulaks. Quase um “azar” que lava as mãos de Stalin. É uma justificativa que se repete entre defensores de regimes tirânicos: no livro “A Revolução Coreana”, do Paulo Visentini, a Grande Fome na Coreia do Norte nos anos 90 é fruto principalmente das intempéries, e o Socialismo Zuche é suavizado, tratado até como algo muito bonito, com líderes que têm apenas um jeito “diferente” de governar – e que o Ocidente insistiria em não compreender. No livro “Holocausto: judeu ou alemão?”, Castan defende que o Holocausto foi uma invenção judia e “prova” que o extermínio judeu teria sido uma mentira: analisa fotos, mostra “judeus gordinhos” em campos de concentração, dá explicações mirabolantes para fatos já consolidados sobre Hitler. Há negacionistas históricos para todos os desgostos. Aliás, um dos méritos de “A fome vermelha” é que Anne Applebaum não esconde o discurso de quem nega ou contemporiza a Holodomor: nos capítulos finais do livro, ela trata desses revisionistas e explica por que estão errados. A autora reconhece alguns pontos dos críticos – em relação à estimativa de mortos, por exemplo, que às vezes é mais do que duplicada –, mas sua extensa pesquisa apoiada inclusive em documentos da Rússia bolchevique provam que o extermínio aconteceu e foi político. As imagens que acompanham o livro acabam exibindo pouco da tragédia, mas é porque há escasso registro fotográfico do evento macabro que ocorreu na Ucrânia. Os próprios jornais soviéticos da época agiam como se a situação não existisse, e estatísticos que apresentaram dados demográficos que não agradaram Stalin – refletindo pessoas “faltantes” porque mortas pela fome – foram executados. * Falando em registros, um momento fundamental do livro é o capítulo 14, “Dissimulações”, que trata de estrangeiros “enganados” pela URSS e que perpetuaram essa enganação. George Bernard Shaw foi um deles: recebido com pompa e agrados pelo governo soviético, ele chamava as críticas ao regime de “boatos”. Também jogou fora alimentos que lhe deram pra entregar aos famintos porque dizia não haver fome no país. Outro caso marcante é o do jornalista Walter Duranty, correspondente do New York Times em Moscou de 1922 a 1936, que foi adulado pelo regime e respondeu com gratidão: sua cobertura do que acontecia até admitia algum “sofrimento infligido”, mas concluía que o objetivo do governo “era nobre”. Suas reportagens lisonjeiras à URSS o tornaram influente, e em 1932 ele chegou a ganhar um Prêmio Pulitzer por uma série de artigos que escrevera sobre o sucesso da coletivização e sobre o Plano Quinquenal. Quem não participou dessa farra foi o jornalista Gareth Jones (ver sua história no filme “A sombra de Stalin”, disponível no streaming), que pôde observar a Ucrânia por três dias e a Rússia por algumas semanas, mas anotou tudo que viu e publicou o material na imprensa, para fúria tanto do regime soviético quanto de Duranty, que negou haver fome severa na Rússia e ainda disse, sobre os métodos impositivos dos soviéticos: “não se pode fazer omelete sem quebrar ovos”. Jones acabou, naquela época, ofuscado pela fama e pelo poder de Duranty. Contribuiu para isso que alguns países não queriam se indispor com a URSS, pensando-a como aliada contra a ascensão nazista. Felizmente a História consegue, hoje, colocar Jones e Duranty no seu devido lugar. Uma reparação tardia, mas que é melhor do que reparação nenhuma. * Embora Applebaum não alcance a Guerra na Ucrânia – “A fome vermelha” foi originalmente lançado em 2017 –, seu livro nos ajuda a entender um pouco da atual relação entre esse país com a Rússia, e possivelmente ajuda a explicar pelo menos parte da resistência ucraniana diante de um inimigo tão poderoso que há mais de um século tenta reduzi-la e ter ingerência sobre ela. Recomendo muito a leitura. Um lápis pra marcar os trechos mais importantes e fazer sínteses nas margens ajudará a retomar o texto para revivê-lo, pois quando você chega ao fim parece que já perdeu um pouco do começo. Esse fichamento nas próprias páginas, especialmente quando é um livro extenso e cheio de informações, contribui para a digestão do que foi lido e para a recuperação futura do que cai no esquecimento na nossa memória tão limitada. Outra recomendação: o macete pra não errar chamando o extermínio de “Holomodor”, como frequentemente ocorre, é pensar que a letra D vem antes da letra M no alfabeto. Todo mundo sabe que o nome começa com “Holo”. Na dúvida se é “domor” ou “modor”, pense que o D vem antes do M.
Barbara
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Muito relevante
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Em vista do contexto atual este livro traz uma análise profunda e detalhada do cosntante disputa territorial em relação à Ucrânia e revela uma das grandes catástrofes já enfrentadas por essa nação sofrida. Por meio dos relatos e análises da autora, que por sinal, recebeu um prêmio Pulitzer pela obra espetacular Gulag, chegamos á conclusão de que as atuais disputas pelo território ucraniano possuem raízes mais antigas do que poderíamos imaginar. Recomendo firmemente a leitura.
EURICO
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