Um choque contra a normatividade e que desagrada o conservadorismo
Recomendo
Esse livro é espetacular! Traz uma etnografia bastante rica, engajadora e reveladora sobre como a ação estatal está, de fato, condizente com a manutenção de um biopoder sobre os corpos tidos como abjetos, isto é, daquelas e daqueles que fogem da normatividade. No caso dessa obra, o corpo das travestis é alvo da ação estatal e policial como uma repressão a favor da heterocentralidade; repressão esta que se disfarça de Planos nacionais e de autodefesa policial. No fim, percebemos que a AIDS não é a principal violência sofrida pelas travestis, mas só mais uma violência contra seus corpos e identidades. Em vista de trabalhar essas e outras ideais, esse é um livro essencial para se entender radicalmente, na raiz, essa realidade de violência. Nas histórias que ouvimos pelos meios de comunicação, há apenas um interlocutor para relatar essa realidade: as estruturas de poder tradicionais. Sendo assim, o trabalho de Pelúcio é trivial para que possamos escutar o outro lado da moeda; escutar os relatos de quem são dirigidos os inúmeros discursos de banalização da vida e de identidade. Por isso, esse livro entra em choque contra a normatividade. Pelúcio revela uma realidade que desejam apagar ao mesmo tempo em que reafirma os direitos cidadãos da população retratada; por isso, também, esse livro desagrada o conservadorismo, pois, para muitos, essa população não é digna de um livro, muito menos de existência.
Gabriel
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