Animalescos morde, mas merece alma e mente abertos
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Jerusalém pode ser mais redondo e Uma Viagem à Índia parece mais poético, mas Animalescos condensa bem a obra do Gonçalo M. tavares. Nunca se sabe ao certo onde a história vai dar e, às vezes não 'dá em nada'. Aliás, é frequente nos perguntarmos se a história já começou e onde e quando foi isso. Há pouco ponto de apoio ao leitor durante a leitura: nunca estamos em terreno firme quando se trata de Gonçalo Tavares. Animalescos é um desafio porque, como a poesia, é uma espécie de jogo em que parece que só o escritor sabe as regras - se houver. A estanheza não é maior que no Ulisses de Joyce e o tom de conversa deve muito a Saramago e Ítalo Calvino. Por isso ou apesar disso tudo, o que lemos fica grudado, mesmo quando não gostamos ou não temos certeza de ter entendido. E volta e meia uns trechos voltam à memória, umas impressões causadas pela leitura são revividas aleatoriamente - tipo os acontecimentos nos sonhos ao tentarmos narrá-los em vigília. Animalescos morde, mas merece do leitor alma e mente abertos.
afonseca
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