Simples e tocante a relação com a morte
Recomendo
Que livro simples e tocante.... O livro tem 4 personagens principais: Dom Eleutério de 92 anos e sua esposa Conceição de 92 anos, além do coveiro da cidade, seu Teodoro, também na casa dos quase 70 anos. E a cidade em que vivem, uma cidade abandonada em ruínas, que por sí só também recebe nossa solidariedade pelo abandono a qual foi relegada e abriga esses últimos 3 moradores. A cidade ficará totalmente deserta quando o casal de velhos morrer e o coveiro cumprir seu compromisso de enterrar o último morador. Em cada capitulo o casal, que aguarda a morte (sem tristeza, mas vivendo na penúria total e com suas lembranças de tempos passados) vão passando capitulo a capitulo a preocupação de como serão os próximos dias, sem comida, sem bebida, sem forças para fazer as coisas, sem esperanças de dias melhores... mas acompanhados das lembranças das vivencias, dos pequenos prazeres da juventude, dos filhos, netos, amigos que já partiram... da vida que corria na cidade, nos comércios, nos moradores que ali viveram. O coveiro já deixou 2 covas preparadas para o casal e cuida delas para que o tempo não a destrua antes do tempo. E quem sabe, após a morte do casal, o coveiro possa partir dalí. “(...) Dona conceição fazia que sim com a cabeça e naquele momento sentiu muita pena do coveiro, que ainda estava naquele lugar esquecido à espera de que eles morressem e fossem enterrados em sepulturas decentes, e talvez plantasse uma florzinha qualquer no montículo de terra. A morte não assustava nenhum deles e só não falavam sobre ela por uma questão de pudor, porque os filhos, haviam morrido, os netos, os primos, os irmãos e até aquela cidade morrera aos poucos, numa agonia lenta mas bem visível” (p. 30) Uma das passagens mais emocionantes é quando falam que não terão mais luz a noite por não ter mais vela, pois as únicas 2 que restam estão guardadas para quando o casal morrer. “Tragam outro lampião – pediu ela. Não é melhor apagar para economizar querosene? – disse o coveiro, delicadamente para não ferir o orgulho dos donos da casa. Os anjos falaram por sua boca. Estamos na última lata de querosene e, quando acabar, a gente vai ter que deitar mal o sol se ponha. Só tenho 2 velas de saldo. Eu sei – disse o coveiro. – Uma para a senhora e outra para Dom Eleutério. O homem notou que havia tocado em uma coisa que não devia. A velhinha permaneceu onde estava, o marido ficou olhando confuso para ele...” (p. 27)
Marcelo
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