Fui ler de má vontade, descobri que Neruda é bom
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Já tinha lido alguns poemas do Pablo Neruda e não tinha gostado. Então pensava que Borges fazia bem em esnobá-lo, e que o Nobel que recebeu devia ter sido por alguma condescendência com sul-americanos. Estava errada, como já errei algumas vezes ao confiar em pequenas amostragens ruins – neste “Neruda para jovens” há diversos poemas excelentes. Seguem alguns trechinhos: “Fui teu, e foste minha. Serás de quem te ame, de quem colha no teu horto o que eu plantei.” * “Se pudesse chorar de medo numa casa abandonada, se pudesse arrancar meus olhos e comê-los, eu o faria por tua voz de laranjeira enlutada e por tua poesia que parte dando gritos.” * [do poema intitulado “A pobreza”] “Amor, não amamos, como querem os ricos, a miséria. Nós a extirparemos como um dente mau que ainda agora morde o coração do homem. […] “Se não podes pagar o aluguel vai ao trabalho em passo orgulhoso, e pensa, amor, que eu te estou olhando, e somos juntos a maior riqueza jamais reunida sobre a terra.” * [do poema intitulado “Ode ao gato”] “Os animais eram imperfeitos, compridos rabos, tristes de cabeça. Pouco a pouco foram arrumando-se, fazendo-se paisagem, adquirindo pintas, graça, voo. O gato, só o gato apareceu completo e orgulhoso: nasceu completamente terminado, caminha só e sabe o que precisa.” * “No mundo há coisa mais triste que um trem parado na chuva? Que coisa irrita os vulcões que cospem fogo, frio e fúria? Por que Cristóvão Colombo não pôde descobrir a Espanha? Quantas perguntas num gato? Lágrimas não derramadas esperam em lagos pequenos?” *** Dada a surpresa de descobrir que Neruda é bom e fez poemas muito bonitos, pretendo adquirir outras obras suas. Aliás, este título que estou avaliando encontrei no lixo de uma biblioteca escolar que estava se desfazendo de centenas de livros. Não fosse esse encontro por acaso, sabe-se lá quantos anos mais passaria achando que Neruda era ruim.
Barbara
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