Fascinante!
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Imagine se a sua vida estivesse uma verdadeira bagunça e que você tivesse uma segunda chance para recomeçar, livrando-se de uma só vez de todos os seus problemas... Pois é, essa é a fascinante história de Mattia Pascal. Infeliz no casamento, endividado e sem um tostão no bolso, ele some de casa por uns dias, ganha um bom dinheiro no cassino, mas, quando resolve retornar à sua casa, lê uma notícia no jornal local informando da sua morte repentina. O corpo de uma pessoa foi encontrado boiando no leito de um rio e prontamente identificado por familiares com sendo dele próprio. Ainda atordoado com a notícia e, sem acreditar em “sua sorte”, resolve sair viajando pelo mundo até se cansar e estabelecer-se em Roma. Lá, ele tenta iniciar uma nova vida, mas logo percebe que isso será impossível, pois a farsa em que vive, consome a sua alma a cada dia que passa. E, quando se apaixona pela filha do proprietário da casa em que aluga um pequeno quarto, seu dilema o corrói ainda mais, pois agora entende que não suportaria viver essa mentira ao lado de uma pessoa tão boa e honesta. Um desentendimento e um possível duelo acabaram levando-o a simular uma segunda morte. E, desta vez, voltaria à sua cidade natal para se retratar de seus erros... Com uma narrativa primorosa, Luigi Pirandello nos presenteia com essa belíssima obra! Recomendo a todos! Alguns trechos: “E, com muita frequência, esquecemos que somos átomos infinitesimais, passamos a respeitar-nos e admirar-nos reciprocamente e somos capazes de nos atracar por um pedacinho de terra ou de nos queixar de certas coisas que, se estivéssemos compenetrados do que somos realmente, deveriam parecer-nos desprezíveis misérias.” “De quantas coisas substanciais, extremamente miúdas, inimagináveis, necessitam nossas invenções, para voltarem a ser aquela mesma realidade de onde foram tiradas, de quantos fios tomem a prendê-las na complicadíssima urdidura da vida, fios que nós mesmos cortamos para fazer com que elas se tornassem coisa independente!” “Mas por que os homens”, perguntava a mim mesmo, “se esforçam assim para tomar cada vez mais complicado o mecanismo da sua vida? Por que todo esse barulho de máquinas? E que fará o homem, quando as máquinas fizerem tudo? Compreenderá, então, que o chamado progresso nada tem a ver com a felicidade? Mesmo admirando-as, que alegria experimentamos por todas as invenções com as quais a ciência acredita honestamente que enriquece a humanidade (e a empobrece, porque custam tão caro)?” “Aos poucos, vencidos os escolhos das primeiras perguntas embaraçosas, desviando-me de outros com os remos da mentira, que me serviam de alavanca e de escora, agarrando-me, quase com ambas as mãos, nos que me ameaçavam mais de perto, para contorná-los devagarinho, prudentemente, o barquinho da minha ficção pôde, finalmente, fazer-se ao largo e içar a vela da fantasia.”
Isaac
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