“Aprenda a desconfiar deste mundo”
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Dento da obra “O Pai Goriot” temos uma confluência de personagens lapidados por Balzac com múltiplas subjetividades. Sentimos as suas aspirações. Ouvimos os seus pensamentos. Compartilhamos as suas decepções. Nos deparamos com dilemas familiares. Com as hipocrisias e as ambições atreladas a qualquer sociedade em qualquer tempo. Temos ensejo sobre uma organização criminosa. E todos os elementos que podem levar os homens a completa ruína moral e ética. Na perspectiva principal temos o protagonista Eugène de Rastignac. Um interiorano que vai estudar Direito na capital e que, por associação com uma corrompida elite supostamente abastadas financeiramente, tem seus valores solapados ao buscar o esplendor por adentrar-se no “esgoto moral de Paris”. Um “esgoto” que serpenteia mansões , palácios, salões exuberantes e uma vida nababesca configurando naquilo que Stendhal conclama como “verdadeiros teatros da mentira” ( O Vermelho e o Negro). Um pequeno fragmento da obra eleva o diapasão sobre aquilo que leitor encontrará: [...] “Pois bem, sr. de Rastignac, trate este mundo como ele merece sê-lo. Quer triunfar, vou ajudá-lo. Sondará como é profunda a corrupção feminina, avaliará a amplidão da miserável vaidade dos homens. Embora eu tenha lido muito bem esse livro do mundo, havia páginas que me eram, porém, desconhecidas. Agora sei tudo. Quanto mais friamente calcular, mais longe irá. Bata sem piedade, e será temido. Só aceite os homens e as mulheres como cavalos de aluguel que deixará morrer em cada estalagem, assim chegará ao topo de seus desejos. Sabe, aqui não será nada se não tiver uma mulher que se interesse pelo senhor. Ela precisa ser jovem, rica, elegante. Mas, se tiver um sentimento verdadeiro, esconda-o como um tesouro; jamais deixe que desconfiem dele, pois estaria perdido. Não seria mais o carrasco, iria se tornar a vítima. Se algum dia amar, guarde bem seu segredo! Não o revele antes de ter sabido muito bem a quem abrirá o coração. Para reservar de antemão esse amor que ainda não existe, aprenda a desconfiar deste mundo. É um livro que incomoda. Feito para incomodar, pois àquilo que Balzac escreve é replicado em nosso cotidiano. Embora a obra tenha quase dois séculos, os temas abarcados por ela ainda permanecem atuais, pois o elemento humano e a suas deficiências ainda se mantém. Humano, demasiadamente, humanos. Fica a lição: [...] “aprenda a desconfiar deste mundo”
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