muuuuuuuito o que nadar pra acabar chegando num lugar que nem é tão legal assim
Recomendo
por adorar defender o trabalho alheio, sempre que eu me deparo com uma leitura que acaba se mostrando muito arrastada, eu tenho o hábito de me perguntar: é o livro ou sou eu? e nesse caso, apesar de achar que tenho andado muito distraído durante meus momentos de leitura, preciso admitir que a autora definitivamente não estava com pressa em fazer algo de substancial acontecer na história para fisgar o leitor. o livro começa dividindo informações importantes, que fazem as expectativas subirem rapidamente, então nas páginas seguintes as coisas esfriam e permanecem mornas até aproximadamente 75% do texto. a história começa com blue, uma adolescente com uma vida comum, a não ser por ser uma não-médium vivendo em uma casa cheia de médiuns e a tããããão falada profecia envolvendo a sua vida, que diz que quando ela enfim beijar o grande amor da sua vida, ele morrerá. ainda do ponto de vista dela, conhecemos outra espécie de profecia envolvendo o "caminho dos mortos", um local que se torna uma peça muito importante no livro. e essas questões vêm a se tornar o grande chamariz do livro. com o passar das páginas, também somos apresentados aos garotos corvos, gansey, adam, ronan e noah, que buscam por algo sobrenatural: uma linha de ley que, supostamente, atravessa henrietta, cidade onde se passa a história, e promete guardar um antigo e poderoso rei adormecido. como o esperado, os núcleos pedem para se chocar. blue precisa se tornar parte do grupo dos garotos corvos para que as engrenagens da história comecem a girar, mas o que mais me incomodou foi a demora para essa dinâmica enfim acontecer e o quão lentas as coisas continuaram mesmo após. acaba sendo como ler sobre amenidades envolvendo as vidas de adolescentes excêntricos: blue e o seu drama particular envolvendo um lar incomum e cheio de segredos, profecias e incertezas. gansey e os amigos, que parecem formar uma família disfuncional da qual este faz extrema questão de ser a figura patriarca e protetora. tudo isso é interessante, mas o excesso acabou tornando algumas passagens e descrições muito caricatas e eu gostaria que todo o trabalho envolvendo apresentar as personagens fosse mais permeado de momentos que contribuíssem de fato para o andamento da história, você não come uma garfada de arroz e depois uma de feijão separadamente, você mistura os dois. agora falando um pouco sobre o texto em si, achei a escrita um pouco rebuscada e específica demais, e eu raramente vejo isso como um ponto ruim, porém, somada ao enredo extremamente morno e monótono, imagino que talvez não tenha sido a melhor escolha para prender o leitor. além disso, preciso ressaltar os cortes abruptos entre os acontecimentos, a autora saía de uma cena para outra sem a menor explicação sobre o desfecho, o que me causou certa estranheza em diversos momentos -— uma hora uma personagem estava aqui e puf, agora já tá lá, olha só, tutu pom?! imagino que o livro seria muito mais extenso sem esse pequeno "”artifício”", mas talvez ela pudesse ter deixado para economizar páginas em outros trechos menos proveitosos. também preciso falar da mitologia bastante específica e nada intuitiva que acaba sendo a base desse universo especulativo. muito do que foi passado não passou de mera teoria, o que dificultou muito a minha compreensão lógica do que estava acontecendo e especulação sobre o que estava para acontecer. diferentemente de outras fantasias como os instrumentos mortais e percy jackson, que mostram na prática como tudo funciona, além de já terem elementos que permeiam a nossa cultura. falando em vilões, sem nem ao menos me extender citando a falta de carisma, as figuras que se levantaram como possíveis antagonistas também não revelaram tanta presença e o seu propósito quanto eu gostaria de ter visto, mas acredito esse ponto em especial deve ser melhor desenvolvido nos próximos volumes. desmembrando um pouco sobre cada um dos garotos, achei a construção individual deles bastante detalhada, como a maioria das coisas no livro. ronan tem tudo o que qualquer um poderia querer ao seu dispor, porém passou por situações difíceis, que o tornaram completamente imprevisível, diferentemente de adam, que é estático e extremamente convicto de quem é e do que quer, sendo filho de pais humildes e violentos, ele usa a sua dor como combustível e quer provar o seu valor e mostrar que é mais do que um bolsista à sombra de gansey -— e o seu desejo de se provar e o repúdio pelos privilégios do amigo podem ser facilmente interpretados como inveja internalizada -—, e isso faz com que o seu comportamento seja bastante questionável em alguns momentos. e por fim, gansey tenta construir um lar com os amigos e ser o pioneiro em ao menos alguma coisa, querendo se provar como alguém que é mais do que um garoto rico e privilegiado, ele quer que todos saibam que ele é algo por si mesmo e não pelo que tem à sua disposição e essa busca parece limitar muito a sua personalidade. e também temos noah, que é um completo caso a parte a ser descoberto ao longo das páginas. apesar de alguns esteriótipos e dos momentos caricatos, a autora conseguiu construir personagens que cativam, só gostaria de vê-los um pouco mais em ação por si próprios e não empurrados pelas circunstâncias como ocorreu em todo o livro. mesmo blue, com todas as nuances extraordinárias em sua vida não pareceu se mover sozinha tanto quanto poderia, todas as suas ações tinham um propósito maior, o que limitava que ela demonstrasse quem ela era e o que ela queria para si mesma. sinto que talvez fosse interessante ver os personagens em situações que não fossem ideia do gansey ou consequência dos seus atos. agora mirando no que o livro promete, é engraçado pensar como todo o hype por trás dele se baseia na profecia sobre a blue e sobre o que ela vê no caminho dos mortos e perceber que isso acaba não sendo tão relevante no final das contas. essas questões acabam ficando enterradas sob camadas e camadas de acontecimentos e sentimentos conflitantes durante todo o livro, aliás, o romance em si mal é uma questão nesse primeiro volume, o que me incomodou bastante, já que nada pareceu engatar o suficiente a ponto de cativar e instigar para o que vem a seguir. todas as resoluções nesse sentido foram simplesmente empurradas para os próximos volumes sem uma prévia definida. concluindo, apesar de ser não ter sido uma das minhas melhores experiências com o gênero, imagino que o final conseguiu entregar algumas pontas que chamaram a minha atenção, aguçando a minha curiosidade ao ponto de me segurar bastante nas últimas páginas e instigar a conhecer o que tem por vir. levando em consideração alguns spoilers que eu já levei e também a legião de fãs, me sinto otimista sobre uma melhora nos próximos volumes e estou ansioso pra desvendar alguns mistérios!
Jonathan
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