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Ficha técnica
Informações Básicas
ISBN
9788547000035
ISBN-10
8547000038
Título
Quando Os Fatos Mudam
Autor
Judt, Tony
Editora
Alfaguara / Objetiva
Descrição
O menor preço encontrado no Brasil para Quando Os Fatos Mudam - Judt, Tony - 9788547000035 atualmente é R$ 73,93.
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Avaliação dos usuários
4.4
37 avaliações
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O historiador como intelectual público
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"Quando os Fatos Mudam: Ensaios 1995-2010" é um obra póstuma do historiador Tony Judt cujo textos foram selecionados por sua viúva, que também é historiadora, Jennifer A. Homans. Trata-se de uma coletânea de textos publicados em revistas de grande circulação com adição de algum material inédito. A maior parte do material é composto por críticas de livros; mas há também obituários, rascunhos e ensaios sobre temas diversos. O livro serve para apresentar Judt como intelectual público e como divulgador de fatos históricos. De forma geral, são três os principais temas da obra: a questão do sionismo, a política externa dos Estados Unidos, e a história da Europa pós II Guerra Mundial. Há artigos dedicados à Guerra do Iraque, à ocupação soviética nos países do leste europeu e Europa central, ao unilateralismo norte-americano na "Guerra Contra o Terror", a organizações supranacionais como a ONU e a União Europeia, crítica à ocupação israelense na Cisjordânia, etc.. Uma grata surpresa foi a inclusão do texto "O que está vivo e o que está morto na social-democracia?". Esta foi a última palestra dada por Judt e serviu de mote para a redação do seu último livro publicado em vida (ditado quando já estava tetraplégico em função do agravamento da esclerose lateral amiotrófica (ELA)): "Ill Fares the Land" - publicado no Brasil como "O Mal Ronda a Terra". O método de escrita de Judt é o mesmo empregado em suas outras obras: bastante foco no tema sob escrutínio (não há digressões nos seus escritos), clareza nos argumentos expostos (há pouca ambiguidade ou "pontas soltas") e precisão histórica. Porém, por ser direcionado ao público geral e intencionar pautar o debate público, há o uso salutar de certas sínteses históricas e outros recursos estilísticos que ajudam na fluidez da leitura, o que a transforma em algo bastante agradável e isto mesmo naqueles textos que hoje soam datados.
Rodrigo
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Excelente!
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Os livros de Tony Judt são todos excelentes. De modo geral, eles constituem-se em coletâneas de traduções de ensaios e resenhas publicadas nos EUA e na Inglaterra, embora também abranjam obras "inteiriças", como a sua principal publicação - o impressionante "Pós-guerra" - e também um estudo sobre a intelectualidade francesa no século XX. Os ensaios, conferências, diálogos e necrológios do presente volume, "Quando os fatos mudam", foram selecionados pela viúva do autor para incluir alguns dos textos mais polêmicos de Judt. O que é notável, todavia, é que essa polêmica não inclui - pelo menos para nós, brasileiros - nenhum radicalismo (embora talvez já não se possa dizer o mesmo para os leitores dos EUA); na verdade, as perspectivas expostas no livro caracterizam-se pelo melhor bom senso político, social, econômico e filosófico. Judeu, o autor não deixava de criticar a deletéria política de Israel em face de seus vizinhos e dos EUA (sem deixar de criticar também as tolices e os erros palestinos); estadunidense, Judt criticava o unilateralismo altamente belicista dos EUA sob Bush filho e o individualismo financista do país desde Clinton; historiador, ele defendia uma retomada convicta do Estado de bem-estar social na Europa (e no resto do mundo) e sua constituição nos EUA. Sem dúvida, se não tivesse morrido prematuramente em 2010, faria atualmente coro aos críticos do neofascismo e também da política identitária, cada qual caracterizado (entre muitas outras coisas) pela violência nativista e pelo particularismo narcisista e sectário. Além de ser um alento moral, intelectual e político, terminar a leitura desse livro deixa-nos com a esperança e com a sensação de urgência de retomarmos as noções de bem comum, de vida compartilhada, de preocupações coletivas. Aqui no Brasil, que vivemos desde meados de 2018 sob o duplo signo da violência das milícias e do liberalismo ultrafinancista, as análises e as propostas de Tony Judt são também extremamente urgentes e necessárias. Outro aspecto importante da obra de Tony Judt, isto é, dos seus ensaios, é que ele escrevia juntando o cuidado na formulação conceitual, o respeito à verdade histórica e a responsabilidade política. Em outras palavras, ele era um intelectual que escrevia para informar e formar o pensamento do grande público. A sombra do "academicismo" estava muito, muito longe dele, ao mesmo tempo que, por outro lado, sua obra evidencia o desejo de participar dos grandes debates públicos. Da melhor maneira possível, portanto, ele constituiria o que Augusto Comte chamava de "novo poder Espiritual" e que alguns neomarxistas chamam de "Sociologia pública".
Gustavo
• Via Amazon
Quando os Fatos mudam, eu mudo de Opinião. E o Senhor, o que faz?
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Quando os fatos mudam, eu mudo de opinião. E o senhor, o que faz? Esta frase, atribuída ao economista inglês John Maynard Keynes, é o título do livro póstumo do historiador britânico de origem russa Tony Judt, morto em agosto de 2010. A obra foi compilada e editada pela sua esposa, e tem vinte e oito ensaios divididos em cinco partes, quais sejam: 1989 – a Nossa Era; Israel, o Holocausto e os Judeus; O Onze de Setembro; O Modo como Vivemos Hoje; e A Longo Prazo, todos estaremos Mortos. Com ideias, conceitos, visões e interpretações claras e eruditas sobre os tópicos citados, e ensaios de no máximo quinze minutos de leitura, o livro nos ajuda a acumular conhecimento e informação. Judt começa com um magistral ensaio sobre o melhor historiador do longo século XIX (1789 - 1914) e a sua obra, Eric Hobsbawm. A impressão final sobre o século XIX é a de uma era de mudanças multiformes, na qual um alto preço foi pago pela acumulação de dinheiro e de conhecimento. “Às vezes a questão não é mudar o mundo, mas interpretá-lo”, diz Hobsbawm, e para isto temos que ter uma visão “neutra” para com os modos pelos quais o mundo muda. Em a “Magnífica Ilusão” da Europa Judt prevê os problemas de uma União cada vez mais estreita daquele continente, cujas cidades-sede de decisão, interessante, seguem a linha de comunicação da monarquia Carolíngia do século IX – Bruxelas, Paris, Berlin. Em “Por que a Guerra deu Certo”, é certo que as condições históricas peculiares da Europa entre 1945 e 1947 permitiram uma acomodação desejável para os atores da época. O inimigo era claro, previsível e indestrutível militarmente. A abertura dos arquivos russos e da Europa Central também nos deixam perceber que havia bastante desordem no comunismo nos primeiros anos do pós-guerra, e que os EUA podiam ter ousado mais. Naqueles anos, nas palavras de Molotov, ministro das relações exteriores da União Soviética de 1939 a 1949, e de 1953 a 1956, “nossa ideologia nos faz lançar operações ofensivas sempre que possível, e, caso isto não aconteça, esperamos”. O quinto ensaio “Liberdade e Freedonia” discorre sobre o desconhecimento por parte do Ocidente da Europa Central: “nós sabemos tudo sobre vocês, e vocês não sabem nada sobre nós”! É verdade. A segunda parte do livro é sobre “Israel, o Holocausto e os Judeus”. No sexto ensaio, “O caminho para o Lugar Comum”, Tony Judt critica acidamente o establishment e os políticos israelenses, por obtusidade em não enxergar além do lugar comum de se ver como o “Estado coitado” do século XX, saqueando o passado com a intenção de obter vantagens políticas e recrutando a história para ensinar lições de moral oportunistas. Em “Israel: a alternativa”, Judt conjectura sobre a instigante ideia de Israel tornar-se um Estado binacional. As chances de retornar as fronteiras pré 1967 e de constituir-se um Estado Palestino já estariam longe demais. “Ha assentamentos demais, colonos demais e palestinos demais, todos vivendo juntos, ainda que separados por arames farpados e leis que restringem os movimentos” – diz Judt. No oitavo ensaio, “Um lobby, não uma Conspiração”, Judt analisa um artigo publicado por dois historiadores em 2006, um de Harvard e outro de Chicago, no qual eles afirmam que o apoio dos EUA a Israel ao longo das décadas não tem servido aos melhores interesses dos Estados Unidos, e que as escolhas da política externa americana vêm sendo distorcidas e influenciadas pelo “lobby de Israel”. No nono ensaio “O Problema do Mal na Europa do Pós-Guerra”, Judt discorre sobre o conceito da “banalidade do mal”, de Hannah Arendt, a ideia de que crimes inomináveis podem ser cometidos por homens bastante comuns, com consciência limpa. Como preservar o conceito do mal, expresso na Europa da II Guerra pelo holocausto, “quando este passado europeu está se desbotando da nossa memória e se transferindo para a história? ” Se a geração de 1945 pôs de lado a questão do mal porque ela continha significado demais, a geração atual corre o risco de pô-lo de lado pois ele contém significado de menos. O décimo ensaio, “De Fato e de Ficção”, nos explica a impossibilidade de os assentamentos judaicos nas terras palestinas serem desmantelados, pelo fato de eles já terem meio milhão de habitantes, sendo então importantes nas eleições nacionais. O autor segue argumentando que os Estados Unidos precisam passar a tratar Israel como um país normal, e de novo que está na hora de pensar o impensável, um “Estado Binacional”, inspirando-se em bons exemplos de conciliação, como os da África do Sul e da Irlanda do Norte, e mesmo de Estados praticamente binacionais, como a Bélgica. A terceira parte do livro é sobre “O Onze de Setembro e a Nova Ordem Mundial”. Ela começa com uma resenha do livro “A Peste”, (1947) de Albert Camus. Segundo Judt, Camus também viu, como Hannah Arendt, que o problema do mal seria a questão fundamental da vida intelectual na Europa do pós-guerra. O final do seu livro é sugestivo a este respeito: “O bacilo da peste – [que seria o mal] - nunca morre ou desaparece inteiramente, [...] pode permanecer latente por décadas na mobília ou nas roupas, [...] espera pacientemente em quartos, sótãos, baús, lenços e papéis velhos e [...] talvez chegue o dia em que, para instrução ou desgraça da humanidade, a peste convocará seus ratos – [que seriam os homens] - e os enviará para morrer em alguma cidade que se mostra satisfeita consigo mesma”. Nos ensaios posteriores Judt segue explicando dentre outros o porquê do ressentimento do mundo vis a vis os Estados Unidos e os Americanos – pois são o que são, fazem o que querem, estão em toda a parte, não levam a sério o restante do mundo e provocam inveja e aversão –, o conceito se Soft Power – puro e simples bom senso, tendo a ver com influência, exemplo, credibilidade e reputação – e o quanto é errado os Estados Unidos estarem dissolvendo os vínculos com os seus aliados mais próximos – pois a sua segurança é ilusória e eles vivem no planeta Terra. Judt nos lembra o quanto os Estados Unidos possuem de religiosidade moralista, enquanto os Europeus abandonaram a sua igreja aos milhares, o quão claro ficou a diferença entre os Estados Unidos e a Europa depois da Guerra Fria e o quanto a “nação indispensável” (Madeleine Albright), Estado militarizado, pode fazer de bom e de ruim no mundo de hoje. Judt explica que, apesar de suas fraquezas, a mera existência da ONU fez líderes mundiais se comportarem, que ela assumiu responsabilidades internacionais com as quais ninguém queria lidar, que os americanos [seu maior financiador] fazem muito mal hoje ao desacreditá-la e que com isto só ajudam a destruir a sua já combalida reputação – não perfeito o mundo com a ONU, um desastre sem ela. Por que não ser inteligente, coloca Judt, e conseguir muito da ONU – apoio político, aquiescência internacional, cobertura legal – em troca de um volume modesto de verbas e concessões? Nós deixamos correndo o século XX, mas o que aprendemos com ele? As memórias contraditórias das guerras mundiais – triunfalista para os Estados Unidos e ruim para a Europa e a Ásia, mais a “paz perdida” da I Guerra Mundial e da Guerra dos Sete Dias de Israel – leva a reações muito díspares aos desafios de hoje. Para Washington a guerra é a primeira opção, e para o restante do mundo o último recurso. A quarta parte do livro é sobre “O Modo como Vivemos Agora”. Nesta parte Judt começa explicando como as ferrovias representam a modernidade. Surgidas na Revolução Industrial elas viabilizaram o transporte de massas, a conquista do espaço – não mais ir e vir a no máximo 16 km/hora – e a reorganização do tempo. As estações ferroviárias tornaram-se âncoras e porta de entrada para as cidades contemporâneas, monumentos arquitetônicos “de per se” e exemplos da modernidade. Grandes cidades europeias – Berlim, Bruxelas, Paris e Londres – foram remodeladas em torno das estações terminais, que se tornaram polos do espaço urbano, com hotéis, cafés e shopping centers. Na sequência ele explica o declínio das ferrovias a partir de 1950, vencidas pela urbanização, petróleo barato, indústria automobilística e da aviação, com exceção da Europa, com cultura de serviço público e menor taxa de penetração de automóveis, e de países muito pobres, por ser a única alternativa de transporte de massas. Judt preconiza um retorno das ferrovias, por questões ambientais, rapidez e todos os custos considerados. As cidades, os aeroportos, os carros, tudo ficou grande e em demasia para prescindir-se das ferrovias. No vigésimo terceiro ensaio, “Inovação como Demolição”, ele explica como o supercapitalismo transbordou para a política e acabou por engolir a democracia. Hoje, “os valores associados ao mundo dos investimentos dispararam, mas as instituições que costumavam agregar valores associados à cidadania declinaram” – escreve Judt. O modo como pensamos o mundo teria trocado o social pelo econômico, os investidores e consumidores teriam triunfado sobre os cidadãos. Isto seria ruim, pois crescimento econômico e de produtividade não necessariamente levam a felicidade individual e coletiva, e o mercado não pode reproduzir e sustentar as instituições e relações de confiança, moralidade e ética necessárias ao bem comum. Desvalorizando as instituições e a ação pública, o que nos manteria realmente coesos? Em “O que está Vivo e o que está Morto na Social Democracia”, Judt critica o conceito e a prática da privatização dos serviços públicos, citando o que foi feito na Inglaterra. Os seus argumentos são bem construídos, mas ele é ingênuo na questão, não conhecia o caso brasileiro. Muito está morto na social democracia de hoje, e ele nos convida a defende-la contra o liberalismo e a lógica de mercado exacerbados. Na quinta e última parte do livro, “A Longo Prazo, todos estaremos Mortos”, Judt escreve ensaios amigos que já se foram, o historiador e intelectual francês François Furet (1927-1997) e a sua contribuição ao entendimento da Revolução Francesa, o austríaco Amos Elon (1926-2009) e seus escritos sobre o sionismo e Israel, o país onde viveu e trabalhou a maior parte da vida, e o polonês Leszek Kolakowski (1927-2009), que viveu na Polônia ocupada pelos nazistas e soviéticos, e levava o mal a sério. Como expressou Kolakowski em uma palestra em Harvard: “O mal [...] não é contingente [...], mas um fato obstinado e incontornável”. E ainda “o demônio é parte da nossa experiência. Nossa geração viu o suficiente dele para levar extremamente a sério a sua mensagem”. Um livro de cabeceira, para ler um ensaio por dia. Marco da Camino Ancona Lopez Soligo