Você quer voltar pra casa?
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Somos jogados na Zona Desmilitarizada - ZDM -, um lugar onde roubos, assassinos, carros-bomba, conflitos e mortes ainda imperam, apesar de estar entre os Territórios do Exército Livre e os Estados Unidos. Cada bairro desta zona "neutra" tem suas próprias regras e donos. Ao viver aquele triste dia a dia, o protagonista, um fotojornalista, vai sendo corroído pela culpa. Percebe o jogo de narrativas e as injustiças da guerra; de como os peões e soldados rasos são totalmente descartáveis, como mostrado, por exemplo, nos excelentes livros 'Um ano sobre o altiplano' e 'Nada de novo no front', e passa a sopesar o valor da informação neste cenário bárbaro. Matt entende a desinformação como recurso em tempos de guerra para que o povo aceite melhor o conflito e suas baixas. Passa a esquadrinhar Manhattan e a fazer reportagens. Há toda uma vida, apesar de tudo, surgindo nesta zona crepuscular: algumas pessoas plantando alimentos, saraus e rega-bofes de artistas em coberturas, alguns patrulham as ruas, perímetros e fronteiras, enquanto outros projetam muros ou assistem aos doentes e enfermos e cuidam da água potável. A turma 'ecochata' do zoológico no Central Park é muito boa: puxaram o chão até o teto e esconderam as construções, fizeram uma baita arquitetura solar com placas e vidros especiais, produzem alimentos 100% orgânicos, têm estufa e criam animais! Além de pilotarem drones e protegerem o verde. O clima de NY pode ser cruel, e as pessoas tentam sobreviver.. é tribo contra tribo. Gibi bem pesado, com violência gráfica e fortes imagens dos rescaldos da guerra, inclusive de crianças. É de chorar. A cena dos militares atacando seu próprio país me lembrou da Revolta da Chibata, episódio histórico brasileiro no qual os marinheiros protestavam contra os abusos e castigos físicos que sofriam. Insurreição que ficou marcada pelos ataques dos insurretos contra a orla brasileira e das penas capitais contra os amotinados. ZDM tem toda uma vibe ihsphertinha da década de 00, linguagem ligeira, protagonista cyberpunk asiática de piercing, tatuagem e dredds louros, bem ao estilo de Transmetropolitan e seu jornalista badass. A arte e o clima tecnológico também fazem lembrar de mais um clássico da saudosa Vertigo: Ex-Machina. A história de amor à distância pelas miras na zona de conflito é sensacional. Brian Wood tem boas sacadas (leiam Northlanders, uma série antológica sobre vikings e um lado mais humano que geralmente não é mostrado nesses materiais). A trama dos dissidentes militares que escolheram viver nas sombras do coração de NY - servindo e protegendo a Natureza - também é divertidíssma. É muito bom acompanhar a vida nas diferentes comunidades fechadas e guetos, cada qual com suas particularidades. Vemos novamente o que The Walking Dead tem de melhor: as interações sociais num mundo em guerra. A arte de Burchielli é linda e ele faz vários estilos durante a obra. Trata-se de um relançamento panini, e é capa dura, sim. Impresso num papel couché de qualidade, sem problemas de transparência e bem traduzido. Um clássico subestimado da DC!
Luiz
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